12 fevereiro, 2008

A crise e as familias

Decidi uma vez mais escrever um post "sério", um pouco à imagem do que fiz sobre o estado da Segurança Social.
Como sabem a crise está a afectar imensas famílias, entre as quais a minha. O dinheiro tem de esticar cada vez mais, já que o aumento das taxas de juro aumenta significativamente os encargos. Claro está que há familias mais afectadas que outras, os níveis de endividamente variam e nem todos sofrem da mesma maneira.
Com vista a abranger os vários cenários de crise, decidi entrevistar três camadas do nosso tecido social, de forma a apurar de que forma estão a ser afectadas as familias.
Dito isto, passemos às entrevistas surreais a familias Portuguesas, afectadas pela crise actual.

Familia: Lopes da Silva (com desculpas aos Gatos que cheiram mal)
Classe: Alta
Repórter: Bom dia. Em que notam mais a crise no vosso dia a dia?
Familia: Temos sido gravemente afectados, a nossa filha a Fatinha, foi a mais prejudicada.

Repórter: Conte-me lá Fatinha, o sucedido.
Fatinha: Veja lá, após ter tido aquele terrível acidente com o Porsche no parque de estacionamento (colocam aqueles pilares de qualquer maneira, não há espaço de manobra), o papá recusou-se a pagar a reparação, tinha perdido pipas de dinheiro na bolsa e disse-me, veja lá, para começar a andar no Audi. Nem posso sair à rua agora, que vão dizer a Pipi e a Bibas se me vêm de Audi, que pindérica.


Familia: Pereira dos Santos
Classe: Média
Repórter: Muito boa tarde, posso saber de que forma a crise afectou a vossa vida diária?
Familia: A nossa vida tem sido um verdadeiro Inferno, especialmente desde que a minha sogra se mudou cá para casa.

Repórter: Compreendo. A pobre senhora deixou de conseguir pagar a casa por causa do aumento das taxas de juro...
Familia: Não, nada disso. O que se passou é que em Dezembro, após as férias em Punta Cana, verificámos que sem o subsidio de Natal, não conseguiamos pagar a prestação do BMW. Ora a empresa de crédito por telefone, só nos empresta o dinheiro para irmos a Varadero no verão se pagarmos primeiro as férias na neve em Andorra. Os putos entretanto querem os novos Nokia, porque o modelo do ano passado já está "out", o dinheiro não estica, por isso decidimos começar a cortar nas despesas.

Repórter: E que fizeram nesse sentido?
Familia: Vendemos a casa da minha sogra, assim como ela está por cá, poupamos imenso na gasolina. Ela morava ali na Moita e nós no Barreiro, as idas e voltas de casa dela, ficavam num balúrdio.

Repórter: Então usaram o dinheiro da casa, para liquidar as vossas dívidas e aliviar assim as dificuldades?
Familia: Liquidar o quê? Aproveitei foi para por GPL no BMW (poupo imenso), trocámos o Audi da Maria a gasolina que já tinha 3 anos e 60.000Kms pelo novo A4 a diesel. Comprámos um Plasma de 40'' para a sala de jantar, colocámos o antigo LCD no quarto da minha sogra e assim ela fica lá sossegada. Com o que sobrou paguei a dívida do condominio, que o F#$%# da P$%& do administrador já me queria por uma acção em tribunal por não pagar as quotas, há pessoas que não compreendem as dificuldades que atravessamos...


Familia: Jacaló
Classe: Imigrantes em quarto alugado

Repórter: Obrigado por me receberem. Digam-me, em que vos afecta a crise?
Familia: Não temos notado muito sabe, o Curiba tem estado a receber o rendimento mínimo, dá para pagar o quarto e ainda sobra para as bejecas. O Cupim está a receber a baixa da segurança social, depois de ter caído do andaime lá nas obras. O Carlos é que se queixa um pouco, o pessoal por causa da crise, é raro dar 1€ ou mais por carro arrumado, a maior parte já só dá 0.50€ e alguns dão-lhe 0.20€ e ainda dizem que ele tem sorte.
Eu perdi o emprego porque a empresa faliu por causa da crise, mas está-se bem, ainda tenho 6 meses de subsidío de desemprego, depois pode ser que a crise passe e arranje um novo emprego.